terça-feira, 20 de julho de 2010

Não importa como, apenas me chame ( IV ).



Paulo buscou-a em sua casa e foram jantar com alguns amigos.
Conversaram, divertiram-se, mas Nina não estava inteira, embora soubesse que era necessário deixar suas reflexões para suas horas solitárias. Sem perceber, Nina já estava namorando ele. "Mas namorar por consequência de fatos e não por escolha? É estranho isso...", pensava.
Ao voltar pra casa ela se entregou aos seus pensamentos com alívio. Diante do espelho ela ensaiava como iria dar a tal notícia para o rapaz(rapaz que embora ela não assumisse, o amava). Ela sentia uma alegria contida por saber que carregava um filho, esse era um sonho antigo. Mas ao mesmo tempo temia pela reação de Emanuel.
Quando se lembrava dele, ficava cheia de doce vontade, de saudade, mas quando seu pensamento prosseguia chegava num ponto que despertava seu descontentamento, por exemplo quando se lembrava do descaso com que ele tratava seus sentimentos.
Por não saber o que sentia, também não sabia como deveria agir.
Ela pegou papel e caneta e escreveu a carta que contaria a notícia. Como já era tarde...Nina dormiu com a caneta ainda na mão.
Ao acordar, Nina deparou-se com os mesmos problemas que a fizeram dormir. E para resolvê-los mandou a carta pelo correio.
Depois de mandar, apesar de tentar se justificar dizendo que havia tentado falar com ele pessoalmente, sua consciência a acusou e ela teve vergonha. Mas, já estava feito.
Ligou pra Emanuel e tentou marcar um encontro mas, como sempre, ele não "podia".
Sua vergonha pela covardia em não falar frente a frente diminuiu.
Nina andava muito distraída na rua, imaginando com otimismo que Emanuel ficaria feliz com a notícia. Distraída, distraída demais. Acabou sendo assaltada.
"Era só o que me faltava!", falava indignada e rindo nervosa da própria situação.

Ao chegar em casa, Paulo a aguardava e após ela contar dos ladrões, ele a abraçou e ela desabou a chorar.
Paulo sempre estava ao seu lado.

E dentro de apenas dois dias, Emanuel recebeu a carta. Estranhou e leu com uma ansiedade que quase o impediu de compreendê-la. As palavras pesavam. Respirou fundo e releu. A perplexidade sobre o que estava lendo o incapacitou de chegar a qualquer conclusão naquele momento.
Na carta, ela não só contava do filho como também assumia todo amor que sentia e sua decepção com o descaso dele.
"Não era descaso, eu apenas sabia que não podia me envolver naquele momento da vida e também tive medo. Tive medo ao ver que meus sentimentos me surpreendiam...meu ciúmes,...tudo."-Emanuel era de uma racionalidade e praticidade admirável e às vezes lamentável. Mas por alguns instantes assumiu o que sentia e outra sensação invadiu-o: a sensação de que estava perdendo algo ou alguém, e no caso agora duas pessoas!


(continua...)

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