quinta-feira, 15 de julho de 2010

Não importa como, apenas me chame ( II ).



"E.M.A.N.U.E.L", soletrava ela em voz baixa enquanto voltava pra casa.
Quase desceu na estação errada de tanto pensar naquela linda visão que provavelmente ela nunca mais veria! Além do nome, a única coisa que ela sabia era que ele também gostava daquela praia. "Pelo menos ele estava lá...Mas...e se aquela foi a primeira vez que ele esteve lá?", pensou ela querendo achar uma saída para revê-lo.

"Eu poderia ficar olhando-a dormir por horas!...Como devo chamá-la? Nina é lindo, mas ela não é só Nina! Bem que ao invés de Nina podia ser Minha!"
, ele, que adorava trocadilhos idiotas, pensava!
"Por que ela falou que TINHA que ir? Eu preciso reencontrá-la!"

Ela prosseguiu com sua vida mas nunca o tirou da cabeça. E sempre que dava, ela passava na praia pra ver se o encontrava, mas nunca teve sucesso.
Ele prosseguiu com sua vida e nunca se esquecia daquela cena.(Pra ele era uma boa cena que daria um bom filme de romance). Mas ele havia viajado pra um trabalho e desde então não tinha voltado ao local da cena.
Vez ou outra, lá estava ela pensando nele. "É involuntário, caramba!"
Cansado de apenas pensar, assim que ele chegou de viagem (após dois meses), foi até aquela praia. Foi ter uma daquelas conversas com Deus e acabou dormindo.
E como enquanto a gente descansa, Deus faz e sempre nos escuta...Naquele mesmo dia, Nina resolveu fazer uma última tentativa.

"Ele falou que nem precisava chamar! Eu já o chamei tanto...Se ele quisesse me encontrar teria ido à praia...Mas não! Ele era só um galanteador barato? Será?",
conversava Nina com ela mesma, tentando entender os acontecimentos. Quando, de repente, ela avistou de longe aquele mesmo cara, dessa vez com camiseta, deitado na areia.
O coração, bobo como ele só, disparou como se tivesse querendo sair correndo na frente! Ela foi se aproximando e lá estava ele...desta vez ele estava dormindo.
Silenciosamente ela sentou-se ao lado dele e ficou ali, observando-o e imaginando mil e uma coisas.
"Esse pode ser um último momento. Pode ser a última vez que o vejo.", pensando assim ela tomou coragem e se aproximou mais um pouco. Deitou suavemente sobre peito dele para ouvir o que o coração dele dizia. Mas a música que o mar sempre cantava estava alta e ela não pôde entender muita coisa.
Sem mexer muito, ele apenas abriu os olhos, sorriu pra Nina e a envolveu num abraço.

Ficaram assim por, pelo menos, duas horas.
Nina -Você disse que eu não precisava lhe chamar...
Emanuel -E não precisa. Estou aqui.
Ela -Não...você não esteve aqui durante dois meses. Por dois meses eu o procurei, o chamei e...
Ele -E escreveu sobre mim?
Ela -Eu dizia seu nome...era involuntário! Acabei escrevendo sim
Ele -Posso ler?
Ela -Não. Você não entenderia. Onde esteve?
Ele- Aqui (apontando novamente para o coração dela, como na primeira vez)
Ela- Mas eu queria você aqui também(apontando para o seu lado). Eu queria sua presença, sua companhia.

Ele a olhou, não explicou onde esteve, e simplesmente a beijou.
Era um momento mágico, mas a dúvida de saber do sumiço dele persistia.
Conversaram. Conversaram tanto que já era quase dia quando eles descansaram por mais um tempo ali mesmo. Abraçados.
Conheceram-se tanto até o ponto de estarem encantados um com o outro.

Ele tinha que trabalhar. Ela tinha que ir pra casa pra preparar o café-da-manhã de seu avô.
- Nos veremos novamente?, se antecipou Nina.
- Claro!
- Mas como?
A hipótese de ele desaparecer novamente a deixava angustiada e confusa.
- Bom, diferente do sonho que você me contou, estamos numa época que tem telefone! Me dê seu número!
- Engraçadinho! Anote aí. É 8751-7678
- Ok. Anotado, minha Nina! Quando posso te ligar para nos encontrarmos?
- Quando quiser!
É...era a resposta que ele queria ouvir mas que não podia ouvir. Nina não sabia que quando se passa segurança demais pra o cara, ele realmente aparece quando quiser...e o querer dele pode ser muito instável ou conveniente! Mesmo que o cara seja Emanuel, a linda visão!
Nina dava liberdade demais pra imaginação pois sempre a usou para escrever, mas não sabia segurá-la quando era pra viver.
Emanuel já era prático. Sensível, doce mas prático. E um certo "realismo" pairava sobre os pensamentos dele. E como já disse Nelson Rodrgues "Não será esta atitude negativa o disfarce de um otimismo inconfesso e envergonhado?".
Nina achava que sim.




(Continua...)

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