sábado, 7 de novembro de 2015

Seria melhor não poetizar tanto a vida. É, seria...


Lá estavam sob a luz da televisão, assistindo a mais um filme juntos.
Um pote de sorvete compartilhado. Esse foi o máximo que ela sentiu do gosto dele, através da colher também compartilhada. Tinha gosto de mistério. Indecifrável.
Estavam lado a lado mas com um espaço entre eles. O espaço do "território desconhecido", da dúvida, do receio.
Entre uma risada e outra foram se aproximando instintivamente.
Ele passou o braço por detrás do pescoço dela amparando-a. Logo, ela se aconchegou.
-Posso?_ perguntou referindo-se a deitar no peito dele.
-Claro._ respondeu puxando-a pra mais perto.

A atenção dela ficou dividida, não sabia se prestava atenção no filme ou se controlava-se. Sim, controlava-se, porque aquela situação toda era digna de intimidade, muita intimidade. Coisa que eles não tinham. Pelo menos, não fisicamente.
Mas tinham uma intimidade de alma, dessas que a gente não escolhe com quem tem, a gente simplesmente reconhece.
O sono chegou. Pra ele.
Ana não conseguia nem respirar tamanho auto-controle ela estava 'gastando'. Não, não estou falando de desejos carnais (apenas). Estou falando PRINCIPALMENTE de controlar emoções, porque, embora ela não quisesse admitir, ele tinha tudo que ela admirava, até as diferenças, até os pensamentos contrários aos dela Ana via como aprendizado.
Era difícil contrariar Ana, pois ela via tudo como aprendizado, como meio de melhorar-se, crescer.
O filme acabou. Ela ou ele teria que ir pro outro cômodo, afinal de contas, não eram nada um do outro pra dormirem juntos. Sim, simplesmente dormirem.
Enfim, nenhum dos dois teve a iniciativa de mudar de lugar. Aquele ambiente estava bom, a companhia, o calor, a cama, o toque...Ahh o toque!
Ele com os olhos fechados, fingindo que estava dormindo, ela o olhava sem pensar em muita coisa. Simplesmente o olhava e acariciava os cabelos dele. Ela estava tão presente ali que não conseguia divagar sobre mais nada, a mente dela achou sossego. Algo raro, diga-se de passagem.
Depois de um tempo, ela parou de lhe acarinhar. "Dormiu"_pensou. Deu-lhe um beijo na bochecha, outro no queixo e virou-se pro outro lado.
Em seguida, ele envolveu-a de costas, abraçou-a, entrelaçando a mão dele na dela.
Ele levantou os cabelos dela e deu-lhe um beijo no pescoço.
Suspiraram fundo. Juntos.
Nenhuma palavra. Nenhuma explicação daquilo que estava acontecendo.
Adormeceram enlaçados. 
Acordaram ressabiados. Ana, sem entender muito bem, tentava não romantizar tudo aquilo, pois pra ele poderia ser apenas uma noite como outra qualquer. Não que ele fosse daquele tipo de homem que usa mulheres para satisfazer-se, mas ele poderia ser mais um que vivia essas coisas sem tirar o coração do cofre. 
Seria melhor não poetizar tanto a vida. É, seria...






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