segunda-feira, 21 de março de 2016

Promete que não apaga?


Ana sempre acreditou em sua própria recuperação.
"Cicatrizes fazem parte da vida", ela dizia.
Sim, fazem. Mas, às vezes, se não for por um milagre de Deus, aquela pele que foi queimada jamais voltará ter a mesma sensibilidade; ou se tornará ainda mais sensível.
Um joelho ralado se cura rapidamente. Mas um corte profundo precisa de "dar pontos" e mesmo depois de anos, a cicatriz continuará ali lembrando de tudo o que aconteceu.

Passado um tempo, eles se reencontraram.
Eles não sabiam agir de outra forma quando estavam perto um do outro.
Parecia que se pertenciam.
E o tempo que esteve entre eles? E a distância? E as histórias?
Tudo isso se tornava pequeno demais diante do reencontro.
Estavam deitados vendo a um filme.
Ela, deitada no peito dele; e ele a segurando. Sim, ele não estava apenas repousando a mão sobre ela, ele estava guardando-a. Pelo menos, era assim que Ana entendia aquela firmeza com que ele a abraçava.
Ela olhou pra cima, para o rosto dele e ele estava de olhos fechados. Ana ficou o olhando, sem saber no que pensar. Estava tudo tão bom, mas ela temia o amanhã.
Lembra que no início da história falei da cicatriz? Ele tinha sido a causa de uma cicatriz que ela carregava.
"E agora? Eu olho pra essa cicatriz e me pergunto: ser 'guiada' por uma cicatriz é precaução ou covardia? É sabedoria ou armadura?"_ era pra ser um pensamento apenas, mas ganhou voz sem querer. Sabe aqueles pensamentos que escapolem?
Ele, que não estava dormindo, apesar dos olhos fechados, ouviu. E Ana, que estava o observando, viu uma lágrima fujona escorrer pelos olhos dele.
Ele que sempre manteve-se sob controle, que continha as emoções, não conseguiu evitar...
-Ana, a cicatriz eu não posso apagar, mas nosso hoje e amanhã eu posso desenhar.
-Mas...promete que não apaga?

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