quarta-feira, 14 de junho de 2017

Das conversas profundas...



Ana sempre foi dada à profundidades. Nenhum comportamento lhe passava despercebido. Não porque ela quisesse julgar, pelo contrário, ela queria amar pessoas.
E como sua amiga Nina também gostava de aprofundar, a conversa entre elas ia além de atos, elas buscavam intenções, histórias,... 

-Você nunca foi assim! Sempre foi dona de seus atos. Está reagindo a ele. Está entrando na mesma onda errada de "formalidade e frieza". Estaria tudo bem se esse fosse seu jeito, mas você não é assim. Você não pode SE atropelar.
-Mas também não posso o atropelar.
-Ele já te atropela com toda a dureza de coração, não endureça o seu. Assim como você respeita o jeito dele, ele tem que respeitar o seu.
-Às vezes tento ver por um ângulo novo...
-Às vezes você ultrapassa na bondade do olhar pra justificar maus atos alheios.
-Não é isso. Ou é? [...] Sei lá, acho que ele sempre teve uma vida equilibrada, sempre buscou moderação. Mas a grande questão é que pra se ter uma vida equilibrada, às vezes precisamos perder o controle no amor. Não, não é uma defesa em prol de um amor doentio, desregrado. É apenas um alerta porque o amor verdadeiro nos desestabiliza mesmo, nos constrange. [...]Veja o exemplo do Amor de Deus por nós, que nos transforma. Quando é um amor que vem Dele, mexe com nossas estruturas mesmo, parece que é maior que a nossa lógica. Acredito que o grande problema ( se é que podemos chamar assim) é que confundimos sensatez com racionalidade excessiva. Confundimos domínio próprio ou “maturidade emocional” com frieza. E achamos que não demonstrar emoções tais como são (falo das boas emoções) é sinônimo de equilíbrio.  E não é! Negar emoções, fugir de sensações que mexem com a gente é uma covardia com a vida. Claro, estou falando dentro das devidas e corretas circunstâncias.

Enquanto Ana tentava o defender pra si, sua amiga refletia:
''É, era assim que ele agia : como se estivesse incomodado. Algo o incomodava. Parecia que ela o tirava do “eixo”. E então, ele agia friamente com ela. Logo com ela, que era transparente, espontânea, amável com todo mundo… Às vezes penso que ele também era um pouco assim. Só com ela que não conseguia ser. Ambos “SE incomodavam”. E todo aquele “desequilíbrio” disfarçado de domínio próprio deixou Ana de mãos atadas. Ela não conseguia ser com ele livre como sempre foi. Era um medo de sentir-se tola por querer ele tão bem misturado com uma vontade absurda de tê-lo perto. E, de repente, os dois agiam de forma estranha um com o outro. Nem parecia que há pouco tempo tinham se conhecido na intimidade, que passaram tantas horas conversando ao telefone, nem parecia..."

Nem Ana, nem Nina conseguiam concluir nada sobre o jovem tão maduro com tantos, tão conhecedor da alma alheia, porém tão assustado consigo.
E mesmo depois de tudo, Ana ainda dizia:
-Só o Amor cura... Contra o medo do amor o único antídoto é "amar apesar de"...
-Ana, eu admiro muito sua forma de ser, agir com a gente, seus amigos e todo mundo. Mas esse cara... Bom, só não permita que ele te fira.
-É, cada um dá o que tem...

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