"Dupla delícia. O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado." Mário Quintana
sábado, 7 de setembro de 2013
Todo dia é novo.
Clara gostava de olhar pra trás. Não porque vivia de passado, mas pra ver por quais caminhos andavam a construção de sua vida.
Ela não temia se virar, até porque ela caminhava rodando, girando, brincando, mas com muita seriedade.
Há muito tempo descobriu que ela se boicotava. Isso mesmo "auto conspiração".
Claro, isso não é consciente. Na verdade, por medo do novo, do extraordinário, por insegurança temos algumas reações que foram automatizadas com uma intenção de "proteção". Mas esse proteção não é verdadeira, pelo contrário, é uma ilusão. Enfim,...
Foi numa época, início de juventude, em que Clara era apaixonada por um cara.
O cara mexia de tal forma com ela, mexia tanto com o coração, corpo, mente que ela não sabia o que fazer, como reagir. Tinha medo, porque não tinha "domínio". O cara era apaixonado por ela também, mas mesmo assim, por meninice de alma, ela tinha medo. E começou a se boicotar. Começou a duvidar de tudo aquilo, a questionar, a querer prever o futuro...Quis ser deus da situação, e por não conseguir, óbvio, foi ficando insegura. E a insegurança alimentada por ela mesma, por sua imaginação de que era algo grande demais pra caber no peito...a insegurança ficou maior que a paixão. E ela fugiu. Disse não.
Nem ela sabia o porquê da fuga. Ele muito menos. Eles se gostavam, se davam super bem, nunca brigavam.
Não havia motivo real. Mas dentro dela, em algum lugar secreto, havia.
Havia uma mania de SE BOICOTAR. Sabe-se lá porquê. Talvez porque por algum motivo a gente não se ache digno ou merecedor. Sei lá.
Hoje ela enxerga isso. Aliás, enxergou antes. Antes da descoberta do amor.
E por ter enxergado esse defeito em si, passou a se vigiar. Ficava alerta quanto às suas próprias reações. E percebeu que o mundo é assim, a maioria SE boicota. Por isso, optam pelo razoável, pelo BOM.
E como poucos, pouquíssimos, SE enxergam, ou decidem SE enfrentar...o mundo vive em guerra e mal sabem que ela não acontece do lado de fora, e sim de dentro.
Vendo que não estava só, Clara não se condenava por ter tido essas reações absurdas! Mas agora ela queria fazer diferente!
Talvez por isso ela tenha lutado tanto por um cara que amou. Aliás, lutado não, apenas esperado.
Porque queria fazer diferente, queria amá-lo assim como era no seu íntimo, sem restrições. Mas não pôde.
Chegou ao fim.
Hoje, ela não temia o passado porque tinha consciência que tinha vivido com intensidade os 100%, tudo que podia. É, porque tem gente que vive com intensidade, mas apenas 20%. Clara já tinha sido assim com uma pessoa. Ela deu seu máximo, mas seu máximo disponível era pouco, já que seu coração estava DE VERDADE em outro lugar. E ela sentia-se até honesta por ser intensa na porcentagem disponível.
Mas logo percebeu, que honestidade seria dispor todo o resto, era falar a verdade pra si, sentir a verdade, não escondê-la, não maquiá-la.
Clara amadureceu, mas não endureceu.
Afinal, a gente endurece apenas quando não SE enfrenta, quando não enfrenta o outro, a vida, quando foge de pessoas ou situações apenas por possibilidades( "e se ele for embora, e se ele me trocar, e se eu não o fizer feliz, e se ele merecer alguém melhor..."), quando a insegurança vira guia.
Uma vida nova a aguarda todos os dias. Uma vida sem "auto boicote", uma vida em que ela tem optar TODOS OS DIAS por ser plena e se olhar no espelho mesmo nos dias em que se acha "feia" e seria mais fácil dormir pra esperar um próximo dia.
Às vezes não é fácil, não é o mais comum (já que todos se escondem), mas todos os dias ela escolhe viver.
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Me vi totalmente nesse texto, me boicotando, sendo insegura =/
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