"Dupla delícia. O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado." Mário Quintana
segunda-feira, 17 de junho de 2013
O encontro.
Como era o esperado, eles se encontraram.
Normal. Até aí normal.
Ela, vestida de força, maquiada de superação, esbanjando naturalidade forçada.
Ele, vestido de indiferença, com o mesmo sorriso largo, protegido por seu escudo invisível.
Dessa vez, ela chegou mais cedo e o esperava (como sempre). Concentrada, criava os roteiros da conversa, ensaiava suas respostas na cabeça pra não ter seu coração exposto. Ele só não podia pegar UM caminho na prosa. Apesar de ela estar ficando boa nisso de se segurar, ela temia não aguentar. Então, era mais "sensato" se esquivar de coisas profundas. Era um desafio e tanto, porque o raso não a bastava, ela gostava é de mergulhar.
Ele chegou no local. Um parque da cidade, um lugar de céu aberto, mas de fuga fácil.
Ela, de óculos de sol, o avistou de longe.
O coração disparou. Respirava profundamente pra manter o controle para que ele não percebesse qualquer alteração na respiração.
O problema é que ele era um bom leitor de almas, apesar de fingir não ser, e demonstrar indiferença.
Ela levantou-se segura e foi ao encontro dele.
Abraçaram-se.
O mundo parou de girar. Ela parou de respirar. Não conseguia pensar em nada, muito menos na primeira frase do roteiro que ela havia criado.
Era coração com coração. Era apenas essa a conversa. Sem palavras. Sem olhares. Coração com coração.
Dessa vez era diferente.
Soltaram-se mas ficaram frente a frente, bem perto.
-Como você está? Deixe eu te ver, tire os óculos!
-Bem, graças a Deus._ela falou deixando escapar uma lágrima por trás das lentes.
Lágrima que desceu rápido e antes que ela pudesse se virar pra limpar...ele viu.
-Tire os óculos..._ele disse levando as mãos para ajudá-la.
-Não, não posso.
Ele tirou.
Ela abaixou a cabeça.
-Olha pra mim.
-Espere, deixe eu respirar, deixe eu me concentrar, ...
Ele pegou no queixo dela e ergueu sua cabeça, limpando as lágrimas dela que pareciam apostar corrida tamanha velocidade que desciam.
-Desculpe, eu não queria._ disse levando as mãos no resto pra se esconder.
-Não queria o quê?
-Não queria... Eu não escolhi isso. Eu luto contra isso todos os dias, contra esses pensamentos, contra a memória, contra mim...Não é fácil!
-Ana, não queria o quê?
-Eu não consigo nem te dizer. Eu sei que pareço ridícula! De vez em quando sinto vergonha...mesmo sabendo que não há motivo pra vergonha.
-Olha pra mim e me diz.
-Dizer o óbvio? O que você está cansado de saber? É tão forte que mal consigo pronunciar as palavras..._dizia aos prantos e dando intervalos entre uma palavra e outra para respirar.
-Contra o que você luta? Fale comigo. Vá além das escritas!
-Eu te amo, caramba! Nunca pensei que fosse te dizer isso, mas é inevitável. Dizer quando a gente sente algo tão grande assim parece insano, não cabe na frase, não cabe....
Ele chorou e a beijou.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário