"Dupla delícia. O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado." Mário Quintana
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Sobre o Menino do banheiro.
Lembra do menino do banheiro?
Desculpe, eu não apresentei vocês.
Ele se chama Lírio.
Até os vinte e um anos ele era chamado de Menino mesmo.
Ficou três anos sem ser chamado(pelo menos, ele não se atentava a isso).
E no final de seus 24 anos a mãe lhe deu esse nome.
É, eu sei que é um nome estranho para um menino, mas a mãe sempre gostou muito de lírios (eles florescem em praticamente todas as estações do ano e exalam um aroma muito agradável. Além de terem uma beleza instigante) e também gostava de nomes diferentes (estranhos).
Se bem que...acho que ela colocou esse nome não pelos Lírios , mas por ser estranho mesmo.
Eu, sinceramente, não acredito que ele tenha problemas (como ele disse no banheiro), nem que ele seja estranho (como a mãe achava).
Diria apenas que ele tem uma história peculiar.
Todo mundo conhece a História do Pinóquio, né?! Aquele personagem infantil feito de madeira que ganhou vida e não podia mentir...
A história do Lírio é parecida, mas a dele é real.
Ele teve uma infância cheia de amor, aventura, fantasia...
Apesar de ter enfrentado algumas coisas quando ainda era muito novo...Era uma criança esperta, criativa, de coração servil e doce.
Atingiu uma maturidade e autonomia de forma prematura. Mas isso nunca apagou seu lado moleque, que aliás, hoje ele usa para disfarçar algum incômodo.
A adolescência foi ainda mais brilhante. Talentoso, comunicativo, amável e amado.
Sempre foi O Menino de Sorte.
Sorte...mas não porque nada de ruim lhe acontecia, mas porque ele ganhou presentes do Pai (Deus)e soube usá-los.
Antes que você pense que ele não tem pai...ele tem sim. E é um pai e tanto! Um pai que lhe ensina muito e acima de tudo, o ama demais.
Ele tem alguns irmãos, mas isso não vem ao caso.
O Menino sempre esbanjou bom-humor, amor...Acho que dentro dele a prateleira de bons sentimentos já estava lotada e ele doava pra quem quisesse pegar(e às vezes até pra quem não queria pegar ou não sabia receber).
Foi aí, numa dessas de se doar incondicionalmente que a alguém lhe deu um golpe e ele não soube reagir.
Não preciso dizer que o Menino tem um monte de admiradoras, né?! Afinal, bem-humorado, talentoso e amável ...qualquer ser humano em sã consciência quer estar perto. E de quebra...tem uma beleza que não sei descrever.
Ele sabia (ah...sabia sim) de seu valor mas gostava de provocar as pessoas boas, ou melhor, gostava de questionar as pessoas ditas BOAS (pela maioria) para se relacionar.
Não que ele não goste de mulheres boas, bonitas ...mas ele gosta de desafios e também (talvez não se ache merecedor. Mas isso foi depois do 'golpe').
Não sei bem o que aconteceu.
Ninguém sabe.
Nem ele. Nem ela.
Mas ele amou muito uma mulher (aliás, acho que ainda ama). Mulher interessante, divertida e com um corpão que todo homem gosta.
Por 3 anos ele se doava pra ela (e ela pra ele). A prateleira de sentimentos dele passou a ter nome (dela).
Ele até tinha vida social (claro!)mas dentro dele não.
Foi quando se deu conta de que a mulher já não pedia seus sentimentos, ela simplesmente ia até a prateleira e pegava o que queria.
Isso seria normal numa relação de amor. Mas não pra ele.
Ele tinha se acostumado a dar sentimentos e não ser "roubado".
Ele não estava sendo roubado. Mas ele se sentia assim. Se sentia sem poder...sentia que se desse mais um passo ele estaria totalmente entregue.
"Que mal há nisso?" Eu também não sei.
Sei que dá um medinho natural de ...perder o controle, de mundo novo...
Mas ele tinha um limite de doação.
Talvez temesse ficar com a prateleira vazia e assim sendo, não sobreviveria.
E foram nesses três anos que as coisas mudaram. Não que a culpa seja da mulher. De jeito nenhum! Mas era o que faltava...era o empurrãozinho para que ele caísse de seu mundo e se sentisse sem chão.
Nesses três anos a mãe o chamava e ele não atendia. O pai o 'buscava' dentro dele mesmo e ninguém o achava.
Não se sabe o que houve.
A mulher foi embora de sua casa, mas não da vida.
E a mãe lhe deu esse nome, se referindo à flor e ao estranho.
Onde que o Pinóquio entra nisso?!
Bom, após os três anos de imersão, ele voltou ao mundo real. Mas parecia o Pinóquio quando era apenas um boneco.
Quem o via, se encantava. Queria levá-lo pra casa, brincar, conversar...interagir.
Ele até fazia isso. Mas dentro de seus limites de boneco.
Ele continuava sendo aquele menino amável, mas não sabia mais como agir se algo saísse do convencional.
Um dia uma mulher cismou com ele. Queria porque queria.
Ele até gostou dela (mas também...ele gosta de todo mundo).
Mas quando ela olhava pra ele, ela não via o Lírio e sim, o Menino.
Ela era até ajeitada, gostava de amar assim do nada, meio tímida às vezes e outras completamente sem vergonha (não no sentido de safada...mas de falta de vergonha mesmo, autêntica).
Num dia desses ela conversava com ele querendo saber 'porquê' ele não vinha com ela.
Talvez sua prateleira estivesse vazia ou ele já não sabia como agir pra voltar a ser o Menino com sentimentos.
Talvez ele só goste de entrar na água até a metade, onde os pés alcançam.
Ela gosta de mergulhar. E também gosta de entender.
E naquela conversa de "porquês" ela conclui "eu devo ter algum problema".
Ele se lembrou de sua confissão no banheiro. E viu que não estava sozinho.
E a voz da menina ecoou encontrando a resposta do banheiro.
Mas agora ele já não era o Menino, nem o rapaz sem nome.
Era Lírio, o homem com essência de Menino.
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Impressionante... sem comentários... Um beijo Renata.
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