domingo, 3 de janeiro de 2010

Parafraseando..."A menina que lia Livros"


Depois de dias silenciosos por fora e de extrema gritaria por dentro...ela resolveu abrir o livro.
Que livro? Aquele que havia aparecido em cima de sua mesinha no quarto.
Ela achou estranho um livro surgir assim...do nada, ainda mais em seu quarto (que é o SEU território, íntimo), por isso não o abriu antes. Ficou com receio do que lhe aguardava.
"Mas é só um livro!", você pode dizer. Sim, um livro, mas pra ela um livro não é apenas um amontoado de páginas e letras, é a porta para um novo mundo.

Ela abriu o livro.
E por incrível que pareça, no livro haviam algumas palavras conhecidas, muitas que eram sinônimos (mudavam apenas a escrita, mas o significado era o mesmo)e outras deliciosamente diferentes.
Engraçado...era um livro que já tinha sido lido por outras pessoas, mas nunca inteiro. As últimas folhas (aliás um pouco mais da metade pra frente)ainda estavam intactas, ainda meio grudadas.
As primeiras estavam soltas, algumas páginas marcadas, frases sublinhadas.

A menina lia parágrafo por parágrafo, atenta, encantada com tanta doçura.
Era uma história cativante, aquelas...que prendem a atenção da gente.
Os amigos da menina até a convidavam pra sair, pra fazer outras coisas, mas ela estava presa àquela história, doida pra descobrir toda aquela riqueza de letras, palavras, ....toda riqueza de Vida!

Era um livro envolvente, tinha imagens, mágica, grafias que ela jamais havia visto. Parecia um outro mundo dentro do mesmo mundo. Não sei. Parecia estranho, tão claro e ao mesmo tempo uma incógnita.

Os dias foram passando e a menina mal saía de casa, e quando saía ficava inquieta esperando a hora de voltar pra continuar sua leitura.
Ela o lia com tanta vontade que logo chegou na metade (apesar das mais de 450 páginas...até a metade!). E ela foi sendo invadida por uma sensação especial, pois sabia que dali pra frente ninguém mais tinha conhecimento do livro, dali pra frente o livro seria só dela, a história teria que ser lida e interpretada por sua simples ("e viajante") imaginação.
Quando ela chegou na última página já folheada, começou a sair música do livro. Era uma melodia linda, acordes dissonantes formavam uma harmonia que paralizavam. E ela percebeu que realmente o livro era encantado. Por isso as pessoas não o liam até o final, não queriam parar de ouvir a música, tinham medo de virar a próxima página e o encanto acabar. Gostavam daquele mundo lúdico que fora criado até ali.
Mas a menina não se deu por satisfeita e virou a primeira página.
Os números do capítulo saltaram em sua frente e ficaram soltos para que ela os reposicionassem. (DOIS SEIS...2 6...ficaram num ir e vir...)
Quando ela o fez, a música continuou tocando baixinha e, dessa vez o livro falou(sim, ele FALOU!):
"É preciso desgrudar as páginas seguintes.
Foram muitos anos em que elas se uniram. Foi muita 'cola' gasta. Não foi algo intencional, quando vi elas estavam coladas.
Eu quero que me leias, mas sei que vais atingir uma leitura que me deixará nu.
Na verdade, a base de toda a metade que ja´foi lida ainda está aqui escondida.
Eu deixo que me leias mas...tenho medo pois sei que vai doer. E eu tenho vivido bem até aqui.
Mas...ao mesmo tempo estou me cansando de ser só a metade."

A menina se assustou mas, como ela vivia perfeitamente à vontade no mundo que o livro lhe proporcionava, era fácil acreditar que o Livro falava, tinha sentimentos e vida.
Seus olhos encheram de lágrimas ao ouvir o desabafo tão sincero e direto do livro.
Sem saber o que fazer, ela o abraçou e o amou.

Ela já estava envolvida com toda aquela História. E mesmo sabendo que não seria fácil pra ambos...desgrudar as páginas...
Sim, ela topou o desafio do Livro e decidiu desbravar as próximas páginas.

[...]

Um comentário:

  1. Espetacular...

    Quantos anos vc tem??? E com que idade começou a escrever...

    Meus parabéns Renata...
    Paz e Bem, Alex.

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