sábado, 15 de fevereiro de 2020

Apenas personagens...

Eu olho ao redor e parece que os contos se foram.
Poesia só da boca pra fora.
Do coração pra dentro: vazio.
Silêncio não existe mais. É um vazio cheio de barulho.
Confundiram leveza com superficialidade.
E fizeram das palavras algo sem valor e credibilidade.
Cada um conversa com seu próprio umbigo em "selfies" intermináveis. Olham-se o tempo inteiro mas não se enxergam, falam consigo mesmo mas não se ouvem.
Não ouvem o outro. Não enxergam o outro.
Uma música para cada momento. E cantam, enchem o ambiente de notas musicais, mas tiraram a poesia e não repararam. Porque a poesia está no profundo, e o profundo é simples. E complicaram demais.
Um filtro pra melhorar algo aqui e ali.
Uma exposição excessiva pra provar uma realidade que não existe.
Comunhões são "televisionadas". A vida virou um show. E shows, sabemos, são fantasiosos.
Não há problema no lúdico da vida, aliás, o lúdico nos salva muitas vezes. O problema é quando não há realidade.
Sem realidade não há propósito, não há identidade verdadeira. Apenas personagens.
Personagens que se desfazem quando a luz apaga e vida que só existe mediante a um holofote, quando alguém começa a gravar.
A câmera desliga, o sorriso também.
E nessa hora, quem é quem?


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