Eles estavam se conhecendo. Havia uma curiosidade pairando.
Um querendo saber do outro.
Ele se mostrava diferente de tudo que ela já tinha conhecido, parecia um terreno nunca pisado.
Clara ouvia mais do que falava. E quando pensava em falar, puxava o fôlego mas parava antes que qualquer letra saísse de sua boca.
Atento como ele é, cada vez que ela puxava a respiração para falar, ele percebia e olhava, esperando um mínimo de coragem dela pra expressar-se.
Os dias foram passando e ela ainda se calava diante dos impulsos do pensamento.
-Pode falar.
-Quem disse que quero falar?
-Você respirou pra isso...
Eles riam da situação. Mas era mais forte que Clara. Parece até que ela previa...
-Fale, Clara. _ele disse com uma voz agradável e um sorriso no rosto.
-Eu tenho medo.
-Medo? De quê?
-Medo de você me julgar, me destratar, ser grosseiro, sei lá... Eu conheço minha sensibilidade irritante._ela disse com leveza e apreensão.
-Nossa, você está mal acostumada...
-Pelo contrário, sou bem acostumada demais, e justamente por isso qualquer intenção de frieza me dói.
-Eu não vou fazer isso com você
-Eu não sei quando vou te ver de novo, eu não tenho essa segurança pra me abrir.
-Eu não vou sumir. Pode confiar em mim.
Clara confiou, abaixou as defesas, expôs a alma e, claro, se encantou com a fluidez com que tudo acontecia.
Um dia ele sumiu, do nada. Pegou toda intimidade que Clara o deu e abandonou pelo caminho, sem nenhum cuidado.
Do dia para a noite tratou-a como uma "passante" da rua, com formalidade, frieza e distância.
No outro dia, mais distância...até que Clara o perdeu de vista. Sumiu exatamente como prometera que não faria.
Como era apegada às palavras, de vez em quando, ela ainda deságua quando a tal frase ecoa em sua memória: "eu não vou fazer isso com você. Não vou sumir. Pode confiar em mim".
Ela não devia ter interrompido a respiração, era seu fôlego que fugia pois já previa tal decepção.
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