quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Procurando por palavras.



Clara ainda estava lá procurando palavras.
Não sei o que acontece para elas fugirem assim (as palavras).
Ela ainda não sabia dar nomes.
Era estranho, inesperado.
Tão simples que ficou complexo.
"É só um sentimento querendo brotar", ela pensou.
"Só?", ela mesma questionou, "como se o despertar de um sentimento fosse a coisa mais tranquila do mundo".
Clara era dada a monólogos.
É, ela estava com um certo receio.
Já não aguentaria passar pelas mesmas dores.
"Por favor, dores diferentes pra agora", era só o que ela pedia.
Não que ela desejasse a dor, mas sabia que em alguns momentos são inevitáveis, já que ela tinha uma sensibilidade gritante.
Não tinha palavras. Não tinha lógica. Não tinha tempo o suficiente.
"Eu sei, o tempo não diz nada", ela já SE explicava.
Depois de anos, pela primeira vez alguém tocou seu coração. E sem pretensão!
Esse era o medo dela, ele não ter pretensão alguma.
"Ahh como as pessoas andam desumanas, me sinto tão humana por SENTIR. Parece que só eu sinto o mundo inteiro!", ela refletia.
Não, ele não fez nada grandioso.
Clara sempre se apegou aos detalhes, ao abstrato, ao invisível. E era isso que a traía, pois era sem perceber que ela era atraída.
"Ele é tão diferente, me parece frio, distante, inconstante....Estou tão acostumada a pessoas que se expressam, que ligam sempre, mandam mensagem, se fazem presentes", mais uma vez Clara tentava entender tudo aquilo, pois ela gosta de PRESENÇA constante (física ou não).
"Ele é educado mas parece que, às vezes, não quer ser pra não parecer tão doce...Mas eu sei, eu seiiiii, a natureza dele é gentil e tomara que seja doce!", a discussão interna continuava.
E, sem entender, sua mente apenas pensava na praia durante a noite, no cuidado despretensioso dele (ele parecia não querer demonstrar sensibilidade)...
Ela fechava os olhos e toda sua memória se enchia de QUATRO DIAS!
Como alguém enche toda memória da gente com quatro dias?
A despreocupação com as horas.
As carícias trocadas.
O barulho da respiração.
A melodia do coração que ela ouviu enquanto estava deitada no peito dele.
O sorvete dividido.
E os pés gelados sendo aquecidos ora por pele, ora por meias colocadas por ele.
E pra completar, ele tinha algo que ela sempre pediu ao Pai (Deus): ele amava a Deus sobre todas as coisas (de verdade!), algo que ela achou que não fosse encontrar.
Que grata e temível surpresa essa aproximação!


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