segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Meu pequeno vira-lata.



A fabricação não foi proposital, mas peguei um pedaço de madeira e comecei a esculpir o "esqueleto". Precisa de uma base forte para mante-lo de pé.
Paralelamente costurei retalhos formando o corpo de um cachorro. Coloquei a madeira dentro, mas não dava certo. Era pesada demais, aqueles retalhos coloridos, apesar de bem costurados logo iriam se soltar pois não há linha que aguente tal peso.
Retirei a madeira e o enchi com algodão. Leve demais? Talvez. Mas dava a doçura necessária para um vira-lata amado pela pequena cidade.
Cola para fixar as orelhas feitas de folhas de árvore. Os olhinhos, que logo estariam tão vivos, feitos de canetinha. Até cílios ele tinha!
No nariz colei a casca de uma jabuticaba.
Um bom tanto de amor e lá estava ele, meu cachorro, passeando pela praça da cidade.
É...porque o amor dá vida à tudo!
Parou na porta da igreja, recebeu afagos. Deu lambidas para retribuir.
Logo saiu. Alguns riam das cores e combinações de seus retalhos. Riam de sua 'construção' misturada. Achavam que era feito de restos. Mas não era. Ele sabia que não era. Ele era SIM misturado porque sua essência foi feita pra tocar a todos. E, como na essência dele não havia maldade, a maldade que lhe "ofereciam" ao tentar machuca-lo com palavras não fazia efeito.
Na rua algumas crianças queriam brincar, outras não sabiam brincar e logo o apertavam demais ou faziam brincadeiras estúpidas, como se ele não tivesse coração. Ele abaixou a cabeça e saiu chorando. Mas logo esqueceu.
Continuou andando feliz. Sentiu um cheiro bom e parou ao lado de um homem que estava sentado sozinho na praça saboreando a vida e saboreando um pedaço de pizza. O moço lhe deu comida, lhe deu amor, lhe deu afagos...O cachorro, pra ele mais um vira-lata, se apegou à ele, abanou o rabinho, pulava pedindo mais...mais carinho! Mas o moço naturalmente se levantou fez um carinho na cabeça do vira-lata e foi embora.
Começou uma forte chuva e o cachorrinho não sabia pra onde ir. O trovão o assustava. Me desesperei. Nos desesperamos. O algodão quando molha pesa, ele não conseguiria voltar pra casa. Os olhinhos, feitos de canetinha, começaram a borrar.
Mas ele chegou. Chegou cansado, pesado, com frio....mas chegou.
Meu pequeno vira-lata em que tantas vezes me disfarço.

Um comentário: