sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Era tão óbvio! E o óbvio parecia tão assustador...


Clara faz jus ao seu nome, busca clareza sempre.
Nem sempre consegue, mas tenta. Tenta com o máximo de suas forças.
Se enfrenta.
E por causa disso, as pessoas acham-na forte.
Sim, até é, mas mal sabem de quantas vezes ela chora em secreto.
É imperfeita, mas leve. Enxerga a vida com simplicidade. É cheia de perguntas, mas não se preocupa tanto com as respostas. Não quer ter razão, quer ver o coração. Não busca lógica e, por isso, lida muito bem com os "de repentes" da vida.

Certo dia ela conheceu Gabriel. Tem nome de anjo, celestial, mas usa uma armadura terrena demais. Era dotado de conhecimento, disciplina, lógica. Sim, são virtudes, mas virtudes que não podem ser chão de ninguém. Muito menos de alguém com um nome tão pronto pra voar, com tanto potencial pra ir além!
Diferente de Clara, com tanta racionalidade tinha dificuldade com os "de repentes". Porque não podem ser explicados, não seguem roteiros...
Fala em tom menor, mais grave, sem modulações. Absolutamente controlado.
[Não, autocontrole não é domínio próprio. Ele controla emoções. E todo controle é resultado de inseguranças. ]

E Clara, em sua simplicidade profunda, o enxergava por detrás de tudo aquilo.
E ela repetia pra si, parecendo tentar se convencer: "ele é doce e gentil; ele não é egoísta ou indiferente....Eu sei que não é. Ele é artista, e artista não pode ser tão calculista assim... "

Nas pausas entre frases, no silêncio dele...em alguns poucos momentos, ela o enxergava por entre as brechas da máscara. [Porque as máscaras que usamos sempre têm buracos por onde escapam as verdades. ]Só precisamos olhar para o outro com amor e gentileza. Olhar demoradamente pra dentro do outro.

Eles eram tão parecidos e tão diferentes. Na verdade, a essência era parecida, mas a forma de expressar era diferente, porque Gabriel não expressava muito. 
E com isso, Clara, que sempre foi clara, já não o era com ele. Não sentia-se segura pra demonstrar afeições pois Gabriel era inconstante no "querer".
E com o "de repente" Clara sabia lidar, já com as inconstâncias.... 
Aí, logo ela que era tão verdadeira, começou a usar máscara pra tentar esconder suas afeições por ele, mesmo achando isso ridículo e tendo que fazer um esforço danado pra se manter "fria"!

Sim, ele conversava, expressava-se verbalmente contando coisas, mas era um verbal sem vulnerabilidade, sem acessibilidade. E nesse contexto impessoal, Clara não sabia falar. Porque ela não gosta do raso, e profundidades só são expressadas de forma pessoal, onde há cumplicidade, quase uma aliança de confiança e aceitação. 
E nesse desencontro de profundidades, parecia complicado estabelecer algo entre eles apesar do desejo de ambos.
É como se ambos estivesse no mar, mas enquanto Clara mergulhava, Gabriel surfava sobre as ondas.
Enquanto que, dentro da água, Clara não ouvia nada além do coração, não tinha controle sobre nada e nadava sem um caminho traçado; Gabriel com todo o seu controle, não tirava os pés "do chão" e podia ouvir vários "sons ambiente".

Mas um dia eles se deram conta de que ambos estavam no MAR. Ambos eram movidos pelas águas (Deus). Tinham apenas visões diferentes e bastava um pegar na mão do outro para que andassem juntos. Afinal, o ambiente era o mesmo. Bastava a disposição em mergulharem juntos e/ou "surfarem" juntos.
Não era tão difícil assim. Era só abandonarem o medo do novo. Era só Gabriel largar a armadura, e Clara se desfazer da máscara.
Eles se gostavam. Vez ou outra o corpo dele o traía e a puxava pra mais perto, e Clara facilmente correspondia.
A comunicação corporal gritava, mas tinham receio de verbalizar. Parecia forte demais pra ter que dar um nome pra aquilo tudo.
Ainda mais porque os dois já sabiam que Deus os queria juntos. 

Clara já tinha exposto toda a situação e esperava por uma iniciativa dele. Porque ela era mulher de princípios conservadores e achava que o homem que deveria dar o primeiro passo.
Finalmente, Gabriel despertou por dentro. O gelo da alma se derreteu e ele foi ao encontro dela.
Ele já sabia que teria o SIM dela, e acho que era isso que o assustava tanto...
Se uniram como Deus queria há tempos. O amor floresceu rapidamente. Afinal, ele já existia, era só uma questão de manifestá-lo.
O relacionamento deles fluía com tanta naturalidade!
Era tão óbvio! E o óbvio parecia tão assustador...

O simples, às vezes, nos deixa sem reação. E essa falta de reação nos faz perder tempo.
Mas, graças a Deus, o Amor resgata o tempo e o eterniza.



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