quarta-feira, 23 de junho de 2010

Um último suspiro (?)



Ela tinha um segredo pra contar.
Mas sabia que ele podia não se importar.
Mas agora também pra ela "tanto faz".
Mentir ela não ia mais.
Não que estivesse fingindo, mas esquecendo-se.
Esquecendo que o que ela sentia não era crime,
que o que ela desejava não era absurdo.
Ela estava se esquecendo.
E tanto esquecimento estava a sufocando.
Foi quando ela decidiu falar.
Pensou que seria fácil. Mas falar é difícil quando o sentimento sobressai.
É fácil falar de coisas rotineiras e até mesmo de problemas superficiais, mas
quando falar significa expôr-se ao nível mais íntimo, expôr-se ao não, ao silêncio, a ausência...Nesses casos, falar é muito muito difícil.
Mas ao mesmo tempo, ela não tinha mais nada a perder. A 'vergonha na cara' ela já não tinha, orgulho muito menos...seu senso de ridículo já estava neutro, a paciência estava quase no fim.
Aliás, a única coisa que ela não podia perder era o resto de coragem que sobrara desde a última vez.
Seria um último suspiro?
E assim como eu estou aqui enrolando para contar o que ela queria falar, ela enrolou. Enrolou durante alguns meses, portanto, segure a curiosidade aí, pois se eu a conheço vai demorar mais um pouco pra dizer ou vai tentar achar explicação ou justificativas, ou até mesmo negar.
"E se ele pegar o que eu disser e simplesmente jogar no lixo?"_
ela se perguntava e me perguntava. "Ué, aí é porque o que você quer dizer não cabe no livro de histórias dele. Mas sinta-se bem! Deixe de pessimismo! Logo você?! Tem muita gente precisando do que você quer oferecer a ele! Limite-se a sentir e falar (expressar)...o resto não depende de você."

Ela já havia decidido dizer e não iria voltar atrás. Não mais.
Mas queria dizer de todas as formas possíveis, com todos os gestos e detalhes.
Se arrumou, maquiou, colocou uma lingerie especial, salto alto. Vestiu-se.
Preparou a comida e sentou-se para o esperar. (é...coisa de mulher besta!)

O tempo passou. Assistiu a um filme. Anoiteceu.
O coração já estava na boca e as lágrimas quase chegando aos olhos.
Tinha medo dele não ir.
Quando ela já estava criando suas justificativas para o "não ir" dele...ele chegou.
Nesse momento, o coração, que já estava na boca, saltou e caiu no chão. Ficou ali parado. E ela friamente agia, inspirando e expirando profunda e discretamente.

Era tão secreto que ela demorou para assumí-lo, para contar à ela mesma.
E lá se foram mais umas horas até que ela abriu a boca pra lhe contar.
Abriu a boca mas a voz sumiu.
Tentou justificar o segredo antes de contar para amenizar a situação.
Finalmente ela contou.
Mas como é segredo, minha gente, apenas entre eles ficou.

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