segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Encontro de Contos.



Lembram da 'Menina que lia livros'? Aquela de uns contos atrás.
Hoje ela acordou com a canção da alvorada puxando seus cílios pra cima e com o Livro ainda nas mãos. Esfregou os olhos pra tentar arrancar as letras do 'Livro Encantado', mas não adiantou muito. Suas escritas já estavam no coração.

Ainda deitada, esticou-se toda, dançando com o lençol.
Foi tirando aos poucos as mãos do Sono que estavam sobre seus ombros. Sentou-se na beira da cama e espreguiçou mais um vez, dessa vez tentando alcançar o Céu.
E pra não perder aquele momento de crepúsculo, só fez uma trança de lado (mal feita) nos cabelos e saiu do jeito que estava. De camisola de algodão e descalça.

Era muito cedo. Ainda estava escuro.
Ela caminhou pela rua ainda deserta. Jamais imaginou encontrar qualquer pessoa naquela rua e naquele horário. Mas pra sua surpresa havia um menino sem camisa sentado na calçada com os pés (também descalços)apoiados na Rua.

Era outono e haviam muitas folhas enfeitando o chão com cobre, ouro e flores que se lançavam de um lado para o outro à medida que o vento soprava.

O Menino estava com a cabeça baixa entre as pernas, desenhando palavras no chão e solfejando uma melodia particular.
Ele também não planejava encontrar ninguém.
Mas essa é a hora que as pessoas que não querem encontrar ninguém saem e por ironia do destino acabam encontrando.

Sem hesitar ela sentou-se ao lado dele, a uns dois palmos de distância.
Era perto demais para sentar ao lado de um desconhecido. Ainda mais pra quem tinha uma rua inteira para explorar. Mas a Menina gostava de ficar perto e queria ouvir a música que ele cantava.

Ele continuou cantarolando e escrevendo não sei o quê. Ignorou-a por um instante.
Ela não se importava, afinal ela estava acostumada a viver só. Apenas com seu Livro.
O Menino levantou os olhos em direção à ela e ensaiou um sorriso, e ela fez uma cara de "pois é...tô aqui" e sorriu apenas com um canto da boca.
Os olhares se cruzaram, a janela da alma de ambos se abriu.
Ela o reconheceu do Livro. Era ele, "Lírio...o Homem com essência de Menino"!
Ele a olhava, sentia uma ligação mas não sabia "porquê". Foi quando ele desviou olhar para as mãos dela e viu que ela segurava um livro com toda a força.

Naquele momento o tempo parou e o vento veio forte em em círculo, bagunçando os pensamentos deles e o cabelo dela.
Os dois temiam. Temiam uma aproximação maior.
Ele gentilmente passou os dedos no rosto dela, puxando uns fios que haviam abraçado sua boca. Ela piscou os olhos lentamente, agradecendo-o.


Eles compartilharam o silêncio. Compartilharam o primeiro raio de Sol entre os galhos de uma árvore, compartilharam o chão escondido sob a renovação. Compartilharam a respiração, e a música da alma.
Compartilharam o amor sem trocar uma palavra.

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